Nem tudo é tão bonito no conceito de copo ecológico
Por: Meu Copo Eco | Categoria: Sustentabilidade | Palavras-Chave: Copos descartáveis, Copos reutilizáveis, reciclagem
Por Joris Fillatre, CEO Meu Copo Eco
Muito tem se discutido no Brasil sobre a questão do plástico de uso único e os copos reutilizáveis como alternativas sustentáveis, feitos dos mais diversos materiais. Porém, mesmo com o avanço dos estudos e o surgimento de novas tecnologias, precisamos deixar claro que nem tudo é tão bonitinho no conceito do “copo ecológico”.
Sendo pioneiros no Brasil na logística reversa de copos reutilizáveis, vou tentar contribuir com o debate.
Primeiramente, o copo em si não é ecológico, é a forma que o usamos que atribui a ele esta qualidade. Temos que entender a primeira regra básica quando falamos de ecologia ou impacto: o ciclo de vida do produto. E a todo momento quando se fala sobre o grande problema do plástico, geralmente estamos falando do fim do seu ciclo de vida: o descarte.
Hoje em dia as crianças em fase de alfabetização na escola já aprendem sobre a hierarquia dos 5R’s: Recusar, Repensar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar, para que saibam identificar que diante de todas estas opções, a reciclagem é a última que deve ser escolhida.
De acordo com a definição do Ministério do Meio Ambiente, reciclagem é um conjunto de técnicas de reaproveitamento de materiais descartados, reintroduzindo-os no ciclo produtivo.
Reciclar demanda o envolvimento de pessoas na (RE)produção, gasto de energia e manufatura para transformar um produto em outro.
É por isso que quando falamos em impacto ambiental, todos os estudos científicos falam a mesma coisa: REUTILIZAR é sempre melhor do que RECICLAR.
E nesta conta já está considerado o consumo de água necessário para lavar os copos reutilizáveis — que é largamente inferior ao consumo demandado na reciclagem de um produto. (Este argumento do gasto da água para reutilizar um produto foi criado pela indústria, que esqueceu de dizer que para reciclar também é necessário lavar o plástico).
E então chegamos ao ponto crucial de toda a discussão: o DESCARTE. Se usarmos um copo reutilizável — resistente e passível de uso e lavagem centenas de vezes, e o jogarmos fora depois de UMA utilização, ele se torna tão descartável quanto qualquer outro copo que seja utilizado uma única vez.
O problema não está no material e sim no fim que damos ao mesmo.
Descartar um copo reutilizável, seja ele de vidro, alumínio ou plástico, é tão ruim para o meio ambiente quanto descartar qualquer copo de uso único.
Um copo reutilizável se torna mais ecológico a partir de 10 usos, menos que isso não terá impacto positivo algum.
Lembro ainda que essa comparação descartável X reutilizável é baseada em um contexto no qual o plástico é de fato reciclado. De todo lixo produzido no Brasil, 30% tem potencial para reciclagem, porém apenas 3% deste total é efetivamente reciclado.
Ou seja, quando uma marca escreve, grande e em verde, na sua embalagem “100% reciclável”, ela sabe ou deveria saber que não existe sequer tecnologia no Brasil para reciclar a maior parte dos materiais que compõem as embalagens dos seus produtos. E que o fim da cadeia será o lixão ou o aterro sanitário.
Como enxergar valor no fim do ciclo de vida em um mundo descartável
Ao longo dos últimos anos vimos crescer a preocupação da sociedade quanto a medidas práticas para conseguirmos tornar a vida mais sustentável. O ser humano forma sua opinião geralmente pautado por suas crenças, cultura e valores, mas nem sempre as constrói a partir de fontes confiáveis.
A democratização da internet nos oferece todo o tipo de informação e hoje é fácil nos servirmos de pesquisas científicas aprofundadas sobre qualquer assunto de nosso interesse — o volume de conteúdo de qualidade é imenso.
Ao mesmo tempo, vemos achismos infundados para todo lado, que enaltecem súbitos heróis e crucificam vilões em praça pública. E no meio de tantas opiniões infladas estamos, cada um de nós, em busca de entender para que lado devemos apontar o nosso favoritismo.
Se a educação sobre o descarte correto de materiais é o X da questão para uma sociedade responsável pelo que consome e pelo lixo que gera, temos que considerar que a indústria não está isenta de responsabilidade e, muito mais do que isso, ela é uma das raízes do problema que tanto queremos resolver.
Desenvolver uma logística reversa eficiente das próprias embalagens e produtos, ou seja, sistemas similares aos que já temos aqui no Brasil com garrafas de vidro de cerveja, bombonas de água e botijões de gás, é ainda a melhor solução.
Aqui, vale ressaltar: a real solução consiste em REDUZIR e REUTILIZAR, o máximo possível. Não adianta substituir tudo por produtos biodegradáveis se vamos continuar descartando e acumulando lixo. A questão do biodegradável, aliás, é pauta para uma próxima conversa…
O problema é que a indústria não quer se responsabilizar pela logística reversa do que produz: É muito mais conveniente e lucrativo para ela comercializar embalagens descartáveis e depois transferir a culpa para o consumidor pelo descarte inadequado dessas embalagens, e para o mercado, por sua falta de capacidade de reciclagem.
Precisamos olhar para o nosso cotidiano, para as nossas atitudes (pessoas e empresas) e encarar o fato:
seja o copo de plástico ou não, de uso único ou não, enquanto não mudarmos a cultura de consumo e do descarte sem consciência do ciclo de vida dos produtos, e enquanto a reciclagem for entendida erroneamente como uma resposta mágica para o lixo que geramos, viveremos em uma sociedade do lixo sem fim.
Precisamos pensar na circularidade das coisas porque NADA se joga fora de verdade. Tudo o que produzimos e consumimos gera impacto no planeta e no planeta permanece.
Abraço, Joris
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